Goebbels foi o titular do Ministério Nacional para Esclarecimento Público e Propaganda
Ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels ficou marcado pelo seu ódio a judeus e católicos, sua admiração pela figura de Hitler e seu fanatismo pelo poder.O pai de Goebbels era católico, trabalhava como funcionário em uma fábrica, e o sustentou durante os estudos universitários. Na Primeira Guerra Mundial, Goebbels foi dispensado do serviço militar por causa do seu pé torto, resultado de uma doença de infância, defeito que mais tarde seria usado pelos seus inimigos para o compararem com "o coxear do Diabo".
Em 1922, doutorou-se em filologia na Universidade de Heidelberg, com esforços literários, dramáticos e jornalísticos. Embora ainda não envolvido em política, apresentava um fervor nacionalista, intensificado pelo resultado frustrante da Primeira Guerra Mundial.
Na universidade, um amigo o introduziu nas idéias socialistas e comunistas. Nessa época, ele era antiburguês, mas não anti-semita. Admirava os professores judeus e chegou a ficar noivo de uma moça de família judaica.
No outono de 1924, fez amizade com um grupo de nacional-socialistas. Como bom orador, foi feito administrador do distrito do Partido Alemão Nacional Socialista (NSDAP) de Trabalhadores em Elberfeld e editor de um magazine nacional socialista quinzenal.
Em novembro de 1926, Adolf Hitler o nomeou líder de distrito em Berlim. Goebbels deveu a sua nomeação ao conflito entre Gregor Strasser, representante da "ala esquerda" anticapitalista da NSDAP, e o líder do partido, Adolf Hitler, da "ala direita". Nesse conflito, Goebbels ficou ao lado de Hitler.
Assim começou a construir o poder nazista em Berlim até à ascensão de Hitler, em janeiro de 1933. Em 1928, Hitler deu ao bem-sucedido orador, brilhante propagandista e jornalista editor de "O Assalto" (e de 1940 a 1945, de "O Império"), o posto de diretor de propaganda do Partido, para toda a Alemanha.
Goebbels começou, então, a criar o mito do "Führer" (líder, dirigente) ao redor da pessoa de Adolf Hitler e a instituir o ritual das celebrações e demonstrações do partido, o que teve um papel decisivo para converter as massas ao Nacional Socialismo.
Depois da "tomada de poder", o "Ministério Nacional para Esclarecimento Público e Propaganda" foi criado para Goebbels, chegando também a ser presidente da "Câmara de Cultura" para o "Reich". No ministério, controlava a imprensa, o rádio, o teatro, os filmes, a literatura, a música, e também as belas artes. O objetivo de sua propaganda na mídia era criar esperanças, citando paralelos históricos e fazendo outras comparações, conjurando leis de história pretensamente imutáveis ou, como último recurso, referindo-se a algumas armas secretas.
Aparecia constantemente perante o público, muito depois que outros proeminentes nazistas já se retiravam a seus abrigos e fortificações.
Desde 1931, Goebbels estava casado com uma mulher de classe média alta, que deu à luz seis crianças. Nos anos de 1937 e 1938, chegou a se envolver com uma estrela de cinema tchecoslovaca, que quase o levou a deixar a sua carreira e família.
Em primeiro de maio de 1945, como o único dos originais líderes nazistas que ficou com Hitler no seu abrigo em Berlim, Goebbels e sua esposa acabaram com as suas vidas e as das suas seis crianças. No dia anterior, fora nomeado chanceler do "Reich" por vontade de Hitler. Por um dia, chegou, assim, a ser o último sucessor de Otto von Bismarck
Paul Joseph Goebbels (Mönchengladbach, 29 de outubro de 1897 — Berlim, 1 de maio de 1945) foi o ministro do Povo, Alegria e da Propaganda de Adolf Hitler (Propagandaminister) na Alemanha Nazista, exercendo severo controle sobre as instituições educacionais e os meios de comunicação.[1]
Foi uma figura-chave do regime, conhecido por seus dotes retóricos. Era um dos líderes políticos nazistas mais destacados que tinham concluído estudos superiores. Teve uma posição correspondentemente importante entre os nazistas.
Um dos primeiros e ávido apoiante da guerra, Goebbels fez tudo em seu poder para preparar o povo alemão para um conflito militar em larga escala. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele aumentou o seu poder e influência através de alianças, deslocando dirigentes nazistas. Em finais de 1943, a guerra estava virando contra os poderes do Eixo, mas isso só fez Goebbels estimular a intensificar a propaganda, exortando os alemães a aceitar a ideia de guerra total e de mobilização. Goebbels permaneceu com Hitler em Berlim até o fim, e na sequência do suicídio do Führer, foi indicado por ele para servir como Chanceler do Reich, ao qual o foi, por apenas um dia. Em suas últimas horas, sugere-se que Goebbels permitiu a sua mulher, Magda, matar os seus seis filhos pequenos. Pouco depois, Goebbels e sua mulher cometeram suicídio.
Vida
Filho do contador Friedrich Goebbels e de sua esposa Marian (nascida Oldenhausen), nasceu em Rheydt (hoje Mönchengladbach) na Renânia numa família católica. Em vez de se tornar padre, como queriam seus pais, ele estudou literatura e filosofia. Quando se ofereceu como voluntário para o serviço militar no início da Primeira Guerra Mundial, foi rejeitado por ter uma perna 10 centímetros mais curta do que a outra, em virtude de, quando criança, ter sofrido intervenção cirúrgica no fêmur, comprometido por um ataque de osteomielite.Finda a Primeira Guerra Mundial, Goebbels vive uma crise existencial. Esteve desempregado muito tempo, apesar do seu diploma. Escreveu algumas obras de poesia, embora fosse rejeitada a sua publicação.
Rejeitava o capitalismo, a democracia, que ele associava ao caos político da Alemanha na República de Weimar. Desprezava a modernidade. Torna-se um antissemita fanático. Rejeitou mesmo uma moça com quem namorava (Else Janke) quando soube que ela tinha mãe judia. Para ele, os judeus e os comunistas eram os culpados da crise económica e política. Nestes anos, Goebbels teve um emprego como funcionário bancário, ao qual não dava grande importância. Ele estava num processo de busca e viu finalmente em Hitler a pessoa que incorporava as suas ideias e esperanças.
Em 1922, Goebbels inscreveu-se no Partido Nazista, sendo o mais fervoroso de todos os apoiantes de Hitler, sendo mesmo ele um dos que ficou junto do seu Führer durante os seus últimos dias de vida. Era o chefe da propaganda, e a sua fabulosa capacidade de organizar movimentos e de exprimir as ideias Nazistas levou-o a ser o segundo homem mais importante da era Nazi.
A sua ascensão no sistema do movimento nazi começa como secretário pessoal de Gregor Strasser na zona da Renânia e Vestfália. A partir de 1 de outubro de 1925 ele passou a ser um dos editores do jornal de propaganda nazista Die Nationalsozialistischen Briefe. Joseph Goebbels ficou célebre pelo seu ódio aos judeus, o qual exprimiu raivosamente no discurso de 1933 no Sportpalast de Berlim da seguinte forma: "Sie sollten nicht lügen […] eimal wird unsere geduld zu ende sein und dann wird den Juden, das freche Lügenmaul gestopft werden.", "Eles não deveriam mentir […] um dia a nossa paciência chegará ao seu fim, e nós vamos calar a boca desses Judeus insolentes e mentirosos", o seu ódio ao Comunismo foi expresso de igual forma. A sua habilidade de transparecer as ideias Nazistas como uma salvação é extraordinária. O próprio crime em si, se não contra o regime, passa a não o ser. Muitos consideram Joseph Goebbels o maior propagandista político de sempre. Várias fontes dúbias apontam Joseph Goebbels como um Comunista, fato que se revela completamente mentira, já que fora o próprio que incitara toda a violência e discriminação contra os mesmos e fora também quem influenciara seu Führer a violar o pacto com os Socialistas Soviéticos, dono da célebre frase "uma mentira cem vezes dita, torna-se verdade".
Em Berlim, Goebbels, que tinha sido nomeado Gauleiter por Hitler, vai tornar-se o editor do jornal Der Angriff ("O Ataque"), um jornal propagandista nazista, publicando constantemente difamações anti-semitas. Em Berlim, o principal visado das tiradas antissemitas do jornal Der Angriff foi o chefe da polícia municipal de Berlim o Doutor Bernhard Weiss, um jurista que era judeu.
Antes de se suicidar, nas etapas finais da Segunda Guerra Mundial, Hitler, em seu testamento escrito no Bunker onde se suicidou, nomeou-o chanceler da Alemanha - e Karl Dönitz como Führer -, quando os tanques soviéticos tinham entrado em Berlim e já se tinha tornado claro que a Alemanha tinha perdido a guerra. Em 1º de maio de 1945, Goebbels e sua esposa assassinaram seus seis filhos (Helga, Hilde, Helmut, Holde, Hedda e Heide) e depois cometeram suicídio com a ajuda dos seus guarda-costas da SS.
Tal como ocorreu com os últimos minutos de Hitler, os detalhes da morte da família Goebbels não foram esclarecidos. Ainda que esteja comprovado o envenenamento com cianureto, alguns asseguram que se terá suicidado com uma arma de fogo; de qualquer forma, ao serem encontrados pelos soviéticos, seus corpos estavam carbonizados demais para se determinar o que havia acontecido. Foi o primeiro homem a utilizar a expressão Heil Hitler.
Família
- Helga Susanne - Helga nasceu em 1 de setembro de 1932. Era a filha mais velha do casal Goebbels e a favorita de Adolf Hitler. Em 1935 ela apareceu na capa de duas revistas e foi fotografada em 1937 com a sua irmã mais nova, Hilde e seu pai, em Berlim. Tinha doze anos de idade quando foi morta com veneno.
- Hildegard - Hildegard nasceu em 13 de abril de 1934 e era chamada de Hilde. Na primavera de 1937, em Berlim, ela foi fotografada com sua irmã mais velha, Helga e seu pai. Numa página de seu diário datada de 1939 Joseph Goebbels descreveu-a como um "Ratinho". Tinha onze anos de idade quando foi morta com veneno.
- Helmut Christian - Helmut nasceu em 2 de Outubro de 1935. Ele era o único filho homem do casal Goebbels. Em seu diário, Joseph Goebbels descreveu-o como um palhaço, ele sonhava em ser condutor do metrô. Tinha nove anos de idade quando foi morto com veneno.
- Hedwig Johanna - Hedwig nasceu no dia 5 de Maio de 1938. Geralmente, era chamada de "Hedda". Tinha sete anos de idade quando foi morta com veneno.
- Holdine Kathrin - Holdine - chamada de "Holde" - nasceu em 19 de Fevereiro de 1937. Seu pai registrou em seu diário que seu nascimento foi muito complicado. O polêmico historiador David Irving tinha especulado que era o resultado de uma relação entre Magda Goebbels e Adolf Hitler. Tinha sete anos quando foi morta com veneno.
- Heidrun Elisabeth - Heidrun nasceu em 20 de Outubro de 1940. Ela era a filha mais nova de Joseph e Magda Goebbels e, geralmente, era chamada de "Heath" ou "Heidi". Tinha quatro anos quando foi morta com veneno.
Propaganda Política Nazista
Fotografia de propaganda nazista mostrando um jardim de infância para crianças alemãs, enfatizando a função materna na Alemanha. Foto tirada na Alemanha, 1941.
— United States Holocaust Memorial Museum
"A propaganda política busca imbuir o povo, como um todo, com uma doutrina... A propaganda para o público em geral funciona a partir do ponto de vista de uma idéia, e o prepara para quando da vitória daquela opinião". Adolf Hitler escreveu tais palavras em 1926, em seu livro Mein Kampf , no qual defendia o uso de propaganda política para disseminar seu ideal de Nacional Socialismo que compreendia o racismo, o anti-semitismo e o anti bolchevismo.
Após a chegada do nazismo ao poder em 1933, Hitler estabeleceu o Ministério do Reich para Esclarecimento Popular e Propaganda, encabeçado por Joseph Goebbels. O objetivo do Ministério era garantir que a mensagem nazista fosse transmitida com sucesso através da arte, da música, do teatro, de filmes, livros, estações de rádio, materiais escolares e imprensa.
Existiam várias audiências para receber e assumir as propagandas nazistas. Os alemães eram constantemente relembrados de suas lutas contra inimigos estrangeiros, e de uma pretensa subversão judaica. No período que antecedeu a criação das medidas executivas e leis contra os judeus, as campanhas de propaganda criaram uma atmosfera tolerante para com os atos de violência contra os judeus, particularmente em 1935, antes das Leis Raciais de Nuremberg, e em 1938, após a Kristallnacht, quando do fluxo constante de legislação anti-semita sobre os judeus na economia. A propaganda também incentivou a passividade e a aceitação das medidas iminentes contra os judeus, uma vez que o governo nazista interferia e "restabelecia a ordem" (derrubada pela derrota alemã na 1ª Guerra Mundial).
A propaganda nazista também preparava o povo para uma guerra, insistindo em uma perseguição, real ou imaginária, contra as populações étnicas alemãs que viviam em países do leste europeu em antigos territórios germânicos conquistados após a Primeira Guerra Mundial. Estas propagandas procuravam gerar lealdade política e uma “consciência racial” entre as populações de etnia alemã que viviam no leste europeu, em especial Polônia e Tchecoslováquia. Outro objetivo da propaganda nazista era o de mostrar a uma audiência internacional, em especial as grandes potências européias, que a Alemanha estava fazendo demandas justas e compreensíveis sobre suas demandas territoriais.
Após a Alemanha haver quebrado o Pacto Ribentrof, que havia assinado, e invadido a União Soviética, a propaganda nazista passou a dirigir-se aos civis dentro do estado alemão, e aos soldados e policiais alemães que serviam nos territórios ocupados, bem como a seus auxiliares não-alemães, inventando um elo entre o comunismo soviético e o judaísmo europeu, e apresentando a Alemanha como defensora da cultura "ocidental" contra a ameaça "Bolchevique". Esta propaganda também mostrava uma imagem apocalíptica do que aconteceria caso os soviéticos ganhassem a Guerra e foi aumentada após a derrota catastrófica da Alemanha em Stalingrado, Rússia, em fevereiro de 1943. Este enredo serviu como instrumento para persuadir os alemães, nazistas ou não, além de colaboracionistas estrangeiros, a lutarem até o final.
O cinema, em particular, teve um papel importante na disseminação das idéias do anti-semitismo racial, da superioridade do poder militar alemão e da essência malévola de seus inimigos, como eram definidos pela ideologia nazista. Os filmes nazistas retratavam os judeus como seres "subhumanos" que se infiltraram na sociedade ariana; em 1940, por exemplo, o filme de 1940, “O Eterno”, dirigido por Fritz Hippler, que retratava os judeus como parasitas culturais ambulantes, consumidos pelo sexo e pelo amor ao dinheiro. Alguns filmes, como “O Triunfo da Vontade”, de 1935, de Leni Riefenstahl, exaltava Hitler e o movimento Nacional Socialista. Duas outras obras de Leni, “O Festival das Nações” e “Festa da Beleza” (1938), mostraram os Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, promovendo o orgulho nacional com o sucesso do regime nazista naqueles Jogos.
Jornais alemães, principalmente o Der Stürmer, O Tufão, publicavam caricaturas anti-semitas para descrever os judeus. Depois que os alemães deflagraram a Segunda Guerra Mundial com a invasão da Polônia, em setembro de 1939, o regime nazista utilizou propagandas para causar a impressão de que os judeus não eram apenas sub-humanos, mas que eram também perigosos inimigos do Reich alemão. O regime buscava obter o apoio, ou o consentimento tácito, da população alemã para as políticas que tinham como objetivo a remoção permanente dos judeus das áreas onde viviam alemães.
Durante a implementação da chamada Solução Final, i.e. o extermínio em massa de judeus, os soldados das SS nos campos de extermínio forçavam suas vítimas a apresentar uma fachada de normalidade em ocasiões em que vinham visitas ou em que tiravam fotos e filmavam os campos, chegando ao ponto de obrigar os que iam para as câmaras de gás a enviar cartões-postais para amigos e parentes dizendo que estavam sendo bem tratados e que viviam em excelentes condições, criando assim a fachada de tranqüilidade necessária para deportá-los da Alemanha, e dos países por ela ocupados, da forma menos tumultuada possível. As autoridades dos campos usavam a propaganda para acobertar as atrocidades e o extermínio em massa que praticavam.
Em junho de 1944, a Polícia de Segurança alemã permitiu que uma equipe da Cruz Vermelha Internacional inspecionasse o campo-gueto de Theresienstadt, localizado no Protetorado de Boêmia e Moravia (hoje República Tcheca). As SS e a policia estabeleceram Theresienstadt, em novembro de 1941, como um instrumento de propaganda para consumo doméstico no Reich alemão. O campo-gueto era usado como uma explicação para os alemães que ficavam intrigados com a deportação de judeus alemães e austríacos de idade avançada, de veteranos de guerra incapacitados, ou artistas e músicos locais famosos para "trabalharem" "no leste". Na preparação para a visita de 1944, o gueto passou por um processo de "embelezamento". Depois da inspeção, as autoridades das SS no Protetorado produziram um filme usando os residentes do gueto para demonstrar o tratamento benevolente, que os "moradores" judeus de Theresienstadt recebiam. Quando o filme foi finalizado, as autoridades das SS deportaram a maioria do "elenco" para o campo de extermínio Auschwitz-Birkenau.
O regime nazista até o final utilizou a propaganda de forma efetiva para mobilizar a população alemã no apoio à sua guerra de conquistas. A propaganda era também essencial para dar a motivação àqueles que executavam os extermínios em massa de judeus e de outras vítimas do regime nazista. Também serviu para assegurar o consentimento de outras milhões de pessoas a permanecerem como espectadoras frente à perseguição racial e ao extermínio em massa de que eram testemunhas indiretas.
A propaganda nazista foi o principal instrumento de ascensão e um dos principais pilares de sustentação do regime de Adolf Hitler, o austríaco que assumiu o poder na Alemanha em 1934 - depois de haver perdido as eleições de 1932 - e viria a desencadear a II Guerra Mundial.
É verdade que a arte de convencer pela palavra é bem mais antiga. Em sua forma moderna, a propaganda política foi inaugurada pelo bolchevismo, especialmente por Lênin e Trotski. Mas, mesmo antes deles, houve líderes que reconheceram sua importância. Napoleão Bonaparte, por exemplo, dizia: "Para ser justo, não é suficiente fazer o bem, é igualmente necessário que os administrados estejam convencidos. A força fundamenta-se na opinião. Que é o governo? Nada, se não dispuser da opinião pública”.
No entanto, é preciso reconhecer que foram Hitler, o ditador alemão dos anos trinta e quarenta do século XX, e Joseph Goebbels, seu ministro da propaganda, que utilizaram com maior sucesso as técnicas de controle da opinião pública, dando, assim, o contorno definitivo à propaganda moderna. Orador inflamado e líder carismático, Hitler usou a propaganda de forma espetacular para unificar o país. Identificou e rotulou os inimigos comuns, os judeus e os comunistas, e o alvo, o Tratado de Versalhes, que tinha imposto ao país condições desconfortáveis ao final da Primeira Guerra.
Podemos dizer que um dos pontos positivos da propaganda nazista é que ela revelou a engenharia interna da propaganda política, constituída por um mix de técnica, arte e ideologia. Isso, em si, não tem partido. Ou, como diz José Nivaldo Júnior em Maquiavel, O poder, “a diferença está na arte de quem a executa e na ideologia que a dissemina”. Outro ponto positivo foi estruturar a propaganda política de maneira sistêmica, incluindo não apenas o uso da mídia formal, da mídia alternativa mas de todos os aspectos da comunicação política, avançando para a redação dos discursos, a cenografia adequada, o efeito hipnótico do grito de guerra, dos holofotes, do jogo de luzes, da cadência da marcha, da logotipia, da identidade visual etc. O lado negativo é que fazia apologia da mentira, por achar que apenas a constância e a continuidade da mensagem bastariam para perpetuar seu regime e sua ideologia, cujo resultado final se contabiliza em milhões de vítimas inocentes.

O sr. acha que a Propaganda Política ocupa o primeiro lugar, antes da própria política, na hierarquia dos poderes totalitários e mesmo da democracia.
Bem entendido, propaganda é uma tentativa de influenciar a opinião e a conduta da sociedade, de tal modo que as pessoas adotem “uma conduta determinada”, como escreveu Bartlett, em Political propaganda. Nesse sentido, toda propaganda é sempre institucional, ideológica e, ao expressar uma ideologia, manifesta-se politicamente. Nisso, ela não diferencia-se em sua aplicação, seja em um regime totalitário, seja em um regime democrático, seja assinada por uma empresa ou por um partido político. Essa é uma das razões pelas quais é decisivo distinguir propaganda de publicidade. Jean-Marie Domenach, em seu livro A propaganda política, distingue ambas com precisão: "A publicidade suscita necessidades ou preferências visando a determinado produto particular, enquanto a propaganda sugere ou impõe crenças e reflexos que, amiúde, modificam o comportamento, o psiquismo e mesmo as convicções religiosas ou filosóficas”.
Mais diretamente podemos dizer que a propaganda é um instrumento da política e da ideologia, expressando-as, e não o inverso. Hierarquicamente, a política vem antes, definindo o conteúdo da mensagem, cabendo à propaganda estruturar a sua forma.
Há, ainda hoje, como envolver a massa a favor de uma liderança carismática? Quais são as principais estratégias e técnicas?
No século XX se ampliaram os limites dos três suportes da propaganda tradicional: a imagem, a escrita e a palavra oral. Quando o nazismo floresceu, o grande meio de comunicação era o Rádio. Hitler aumentou a potência e a quantidade de transmissores e receptores. Promoveu audições comunitárias, mandou instalar autofalantes nos postes, para que ninguém pudesse deixar de ouvir a palavra do Führer. Ele costumava dizer que o rádio, em conjunto com o cinema e o automóvel, haviam tornado possível a vitória nazi-fascista. No cinema, através da arte politizada de Leni Rienfentahl, inaugurou a moderna linguagem do audiovisual. Se isso foi feito naquele tempo, com os recursos escassos da primeira metade do século XX, imagine agora, na era da comunicação globalizada, dos meios de comunicação de massas em tempo real. Nós vimos bombas caindo sobre Bagdá, na mais recente guerra das forças anglo-americanas contra o Iraque, no mesmo momento em que a população iraquiana partilhava o alarido da destruição. Com instrumentos de comunicação eficazes e controle cabal da grande imprensa - as emissoras foram proibidas de veicular noticias provenientes da rede de TV Al Jazira, por exemplo - os Estados Unidos convenceram sua população e boa parte da opinião pública mundial da “correção
moral” e da “necessidade política” de bombardear um país distante que não lhe havia atacado e contra o qual ele não havia declarado guerra. Tudo em nome do suposto “combate preventivo ao terrorismo”, como se nós pudéssemos atirar em alguém apenas por suspeitarmos que essa pessoa possa um dia nos fazer mal. Na verdade, tudo foi feito em nome da milionária indústria bélica dos Estados Unidos e dos negócios privados dos financiadores de campanha de George W. Bush. Segundo o relatório publicado pelo Center for Public Integrity (CPI), uma organização não-governamental norte-americana, 70 empresas dos Estados Unidos abocanharam contratos de 8 bilhões de dólares para realizar os trabalhos de reconstrução do Iraque. Todas elas haviam doado dinheiro para a campanha de Bush. Esse foi um exemplo de como uma liderança, mesmo sem carisma, mas assentada no poder, pode envolver emocionalmente as massas de um país, comprometendo-a em uma empreitada eticamente equivocada e historicamente desastrosa, usando as velhas armas da propaganda ideológica para encobrir interesses puramente políticos e econômicos. Como Hitler, Bush manipula a emoção para obter o resultado político desejado.
"Os poderes destrutivos contidos nos sentimentos e ressentimentos humanos podem ser utilizados, manipulados por especialistas", disse Monnerot. E para isso são utilizadas leis (ou “técnicas” ou “estratégias“) específicas. São elas:
Lei da Simplificação e do Inimigo Único: Consiste em concentrar sobre uma única pessoa as esperanças do campo a que se pertence ou o ódio pelo campo adverso. Reduzir a luta política, por exemplo, à rivalidade entre pessoas é substituir a difícil confrontação de teses. No caso do nazismo, os judeus e comunistas (formando uma massa uniforme) acabaram eleitos como o "inimigo único". Um bom exemplo contemporâneo foram campanhas presidenciais brasileiras de 1989. Em Fernando Collor de Mello se depositaram todas as esperanças - muitas delas trabalhadas pelos meios de comunicação - do povo brasileiro: um presidente jovem, esportivo, religioso e aparentemente honesto, prometia acabar com os "marajás" e instaurar a República da moralidade. Seu opositor era Lula, o comunista, o “sapo barbudo”, o inimigo único, contra o qual se constituiu uma aliança pró-Collor que ia da UDR e da Fiesp até a Rede Globo, passando pela Igreja Universal.
Lei da Ampliação e Desfiguração: A ampliação exagerada das notícias é um processo jornalístico empregado correntemente pela imprensa, que coloca em evidência todas as informações favoráveis aos seus objetivos. Exemplo: a greve nacional dos petroleiros, em 1998. Os veículos de comunicação (especialmente a Globo) anunciavam com freqüência que os combustíveis, principalmente o gás, iam faltar. Ressaltavam os problemas que adviriam da falta de gás. Mostravam as filas de compradores em busca de seus botijões. Assim, garantiram a opinião pública desfavorável aos petroleiros. No recente episódio da confusa nacionalização dos recursos minerais da Bolívia, quando Evo Morales, o presidente indígena, decretou a estatização das minas de gás que até então estavam sob controle da Petrobrás, as grandes redes de televisão se apressaram em criar um clima de enfrentamento e de guerra diplomática, alegando que o Brasil estava “de joelhos” e “se humilhando” para a Bolívia, desfigurando os fatos - rigoramente o Brasil não perdeu nem seus contratos nem seu patrimônio, uma vez que o Direito Internacional garante indenicação em caso de "nacionalização". O governo brasileiro retrucou dizendo que era um direito da Bolívia decidir como gerir sua riqueza mineral e seu sub-solo e, que, portanto, a soberania brasileira não estava em jogo e sim as relações comerciais entre dois países soberanos. Ato contínuo, os telejornais passaram a despejar doses diárias de terror, alegando que iria faltar gás de cozinha – que não é produzido na Bolívia nem importado pelo Brasil. O objetivo claro era provocar desgaste político em Lula e no governo, com objetivo descaradamente eleitoral.
Lei da Orquestração: A primeira condição para uma boa propaganda é a infatigável repetição dos temas principais. Goebbels dizia: "A Igreja Católica mantém-se porque repete a mesma coisa há dois mil anos. O Estado alemão deve agir analogamente."
Adolf Hitler, em seu Mein Kampf, escreveu que a propaganda deve limitar-se a pequeno número de idéias e repeti-las incansavelmente. “As massas não se lembrarão das idéias mais simples a menos que sejam repetidas centenas de vezes“, escreveu Hitler. “As alterações nela introduzidas não devem jamais prejudicar o fundo dos ensinamentos a cuja difusão nos propomos, mas apenas a forma. A palavra de ordem deve ser apresentada sob diferentes aspectos, embora sempre figurando, condensada, numa fórmula invariável, à maneira de conclusão”. Não parecem frases extraídas de um moderno tratado de comunicação mercadológica?
Portanto, a qualidade fundamental de toda campanha de propaganda é a permanência do tema (ou “conceito” - como dizemos hoje), aliada à variedade de apresentação. Convivendo com a redução substancial de sua participação na partilha do bolo de recursos federais - que na era FHC eram distribuídos com generosidade para os governadores do PSDB e com parcimônia burocrática aos demais governadores - o governo do Pará resolveu usar a técnica da orquestração para criar um discurso de “defesa do Pará" (defesa contra "quem"? Contra o "inimigo único", o Governo Federal), ao mesmo tempo em que oculta a participação do governo federal (agora do PT) em ações expressivas realizadas no Estado, como a regularização fundiária, a pavimentação de rodovias, a eletrificação rural ou a criação de um sistema único de segurança. Ao mesmo tempo, sob a abstrata bandeira da defesa do Pará, oculta sua participação ativa nas privatizações da Celpa e da Companhia Vale do Rio Doce, que geraram o desmonte de importante patrimônio público, a precarização dos serviços, a ausência de controle e fiscalização do Estado sob nosso sub-solo e a manutenção ad-eternum da "vocação" extrativista que nos coloca desde sempre na periferia do desenvolvimento nacional.
Lei da Transfusão: A propaganda não se faz do nada e se impõe às massas. Ela sempre age, em geral, sobre um substrato preexistente, seja uma mitologia nacional, seja o simples complexo de ódios e de preconceitos tradicionais. É o que os oradores fazem quando querem amoldar uma multidão ao seu objetivo: jamais contradizem as pessoas frontalmente, mas de início declaram-se de acordo com ela. A maior preocupação dos propagandistas reside na identificação e na exploração do gosto popular, mesmo naquilo que tem de mais perturbador e absurdo. O sexismo nas propagandas de cerveja é fruto da idéia, corrente, de que a mulher é um objeto de desejo e elemento ornamental em si, abstraindo seu valor como pessoa, como ser racional.
Lei da Unanimidade: Baseia-se no fato de que inúmeras opiniões não passam, na realidade, de uma soma de conformismo, e se mantêm apenas por ter o indivíduo a impressão de que a sua opinião é esposada unanimemente por todos no seu meio. É tarefa da propaganda reforçar essa unanimidade e mesmo criá-la artificialmente. Quando Ayrton Senna morreu, os meios de comunicação trataram de transformá-lo não apenas em ídolo, mas em um semideus, fazendo com que essa comoção chegasse até mesmo a pessoas que pouco sabiam sobre Fórmula 1 ou sobre a personalidade do piloto. Durante a transmissão do traslado do corpo de Ayrton Senna, ao ser perguntada por um repórter sobre o que estava sentindo, uma mulher respondeu: "Estou muito triste. Eu nem sabia o quanto amava o Ayrton”. Não sabia mesmo, até a mídia dizer isso a ela, criando artificialmente uma relação afetiva, quase íntima, pessoal, com alguém com quem ela nunca teve qualquer contato humano anterior.
No Dia da Propaganda, uma agência de Belém divulgou peça institucional onde usava a propaganda nazista, através de uma imagem e de alusão textual, como uma propaganda que não obteve êxito, fracassou. Na sua opinião, ela obteve êxito ou fracassou? Justifique?
A propaganda nazista foi exitosa. A idéia de que a linha mestra da propaganda nunca deve ser abandonada, de que qualquer variação tem que afirmar a mesma coisa, de que o sucesso da propaganda é assegurado pela repetição e pela constância, são matrizes do marketing e da propaganda contemporâneos lançadas por Goebbels durante a campanha nazista. Os fatos precisam ser reconhecidos. Em 2000, a Vanguarda fez um outro anúncio, também publicado no Dia da Propaganda, com o título “a propaganda sem ética pode vender tudo. Inclusive a nossa liberdade” onde combatemos a visão de que apenas a propaganda “justa”, “verdadeira”, pode ter êxito. Isso é pura mitologia. Fernando Collor, para ficarmos só em um exemplo, fez história para não deixar dúvida: propaganda sem ética vende, sim. Transforma mentira em verdade, ainda que por um tempo. E durar pouco tempo é ainda durar, porque a extensão temporal não precisa ser infinita para um fato acontecer e produzir resultados. A propaganda sem ética vende, passa adiante. E depois não pede desculpas. Pode vender falsários como salvadores da pátria e torná-los governantes; pode vender carros inseguros, que capotam numa freada brusca; pode vender pacotes de excursão que te deixam sozinho numa paragem perdida na savana africana ou em pleno Lençóis Maranhenses; pode vender a idéia de que todo árabe ou mulçumano é inimigo da civilização ocidental, desencadeando o ódio racial e a intolerância religiosa; propaganda sem ética pode vender tudo, inclusive a nossa liberdade. A propaganda nazista foi soberbamente exitosa porque ganhou a cumplicidade de uma das populações mais cultas do mundo para atos insanos, como o extermínio físico de comunistas e judeus ou a invasão de países limítrofes. Mas veja: a Alemanha foi pátria da filosofia moderna, esteve na vanguarda do pensamento ocidental. Não é nem nunca foi um povoado habitado por um amontoado de tontos. Contudo, o poder de convencimento da propaganda foi tamanho que o nazismo se instaurou praticamente sem derramamento de sangue: derrotado nas urnas, Hitler tornou-se primeiro ministro em 1932, em 1934, com a morte do presidente da Alemanha, Hindemburg, assumiu a presidência e consolidou seu poder. Em 1939, invadiu a Tchecoslováquia e a Polônia, sem encontrar resistência. Ele soube dialogar com os anseios, as aspirações e as franquezas daquele povo culto, submetendo-o. O fato do nazismo ter sido derrotado não se deu por conta da incorreção da sua propaganda, afinal ele não foi derrotado ideologicamente, ele foi derrotado militarmente para depois ser submetido a um julgamento ideológico e histórico. Felizmente, apenas o sucesso da propaganda não foi capaz, não foi suficiente, para levar Hitler e seus aliados à vitória final na segunda guerra mundial. Ele não foi derrotado por sua propaganda, e sim, foi derrotado apesar dela.
Após a chegada do nazismo ao poder em 1933, Hitler estabeleceu o Ministério do Reich para Esclarecimento Popular e Propaganda, encabeçado por Joseph Goebbels. O objetivo do Ministério era garantir que a mensagem nazista fosse transmitida com sucesso através da arte, da música, do teatro, de filmes, livros, estações de rádio, materiais escolares e imprensa.
Existiam várias audiências para receber e assumir as propagandas nazistas. Os alemães eram constantemente relembrados de suas lutas contra inimigos estrangeiros, e de uma pretensa subversão judaica. No período que antecedeu a criação das medidas executivas e leis contra os judeus, as campanhas de propaganda criaram uma atmosfera tolerante para com os atos de violência contra os judeus, particularmente em 1935, antes das Leis Raciais de Nuremberg, e em 1938, após a Kristallnacht, quando do fluxo constante de legislação anti-semita sobre os judeus na economia. A propaganda também incentivou a passividade e a aceitação das medidas iminentes contra os judeus, uma vez que o governo nazista interferia e "restabelecia a ordem" (derrubada pela derrota alemã na 1ª Guerra Mundial).
A propaganda nazista também preparava o povo para uma guerra, insistindo em uma perseguição, real ou imaginária, contra as populações étnicas alemãs que viviam em países do leste europeu em antigos territórios germânicos conquistados após a Primeira Guerra Mundial. Estas propagandas procuravam gerar lealdade política e uma “consciência racial” entre as populações de etnia alemã que viviam no leste europeu, em especial Polônia e Tchecoslováquia. Outro objetivo da propaganda nazista era o de mostrar a uma audiência internacional, em especial as grandes potências européias, que a Alemanha estava fazendo demandas justas e compreensíveis sobre suas demandas territoriais.
Após a Alemanha haver quebrado o Pacto Ribentrof, que havia assinado, e invadido a União Soviética, a propaganda nazista passou a dirigir-se aos civis dentro do estado alemão, e aos soldados e policiais alemães que serviam nos territórios ocupados, bem como a seus auxiliares não-alemães, inventando um elo entre o comunismo soviético e o judaísmo europeu, e apresentando a Alemanha como defensora da cultura "ocidental" contra a ameaça "Bolchevique". Esta propaganda também mostrava uma imagem apocalíptica do que aconteceria caso os soviéticos ganhassem a Guerra e foi aumentada após a derrota catastrófica da Alemanha em Stalingrado, Rússia, em fevereiro de 1943. Este enredo serviu como instrumento para persuadir os alemães, nazistas ou não, além de colaboracionistas estrangeiros, a lutarem até o final.
O cinema, em particular, teve um papel importante na disseminação das idéias do anti-semitismo racial, da superioridade do poder militar alemão e da essência malévola de seus inimigos, como eram definidos pela ideologia nazista. Os filmes nazistas retratavam os judeus como seres "subhumanos" que se infiltraram na sociedade ariana; em 1940, por exemplo, o filme de 1940, “O Eterno”, dirigido por Fritz Hippler, que retratava os judeus como parasitas culturais ambulantes, consumidos pelo sexo e pelo amor ao dinheiro. Alguns filmes, como “O Triunfo da Vontade”, de 1935, de Leni Riefenstahl, exaltava Hitler e o movimento Nacional Socialista. Duas outras obras de Leni, “O Festival das Nações” e “Festa da Beleza” (1938), mostraram os Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, promovendo o orgulho nacional com o sucesso do regime nazista naqueles Jogos.
Jornais alemães, principalmente o Der Stürmer, O Tufão, publicavam caricaturas anti-semitas para descrever os judeus. Depois que os alemães deflagraram a Segunda Guerra Mundial com a invasão da Polônia, em setembro de 1939, o regime nazista utilizou propagandas para causar a impressão de que os judeus não eram apenas sub-humanos, mas que eram também perigosos inimigos do Reich alemão. O regime buscava obter o apoio, ou o consentimento tácito, da população alemã para as políticas que tinham como objetivo a remoção permanente dos judeus das áreas onde viviam alemães.
Durante a implementação da chamada Solução Final, i.e. o extermínio em massa de judeus, os soldados das SS nos campos de extermínio forçavam suas vítimas a apresentar uma fachada de normalidade em ocasiões em que vinham visitas ou em que tiravam fotos e filmavam os campos, chegando ao ponto de obrigar os que iam para as câmaras de gás a enviar cartões-postais para amigos e parentes dizendo que estavam sendo bem tratados e que viviam em excelentes condições, criando assim a fachada de tranqüilidade necessária para deportá-los da Alemanha, e dos países por ela ocupados, da forma menos tumultuada possível. As autoridades dos campos usavam a propaganda para acobertar as atrocidades e o extermínio em massa que praticavam.
Em junho de 1944, a Polícia de Segurança alemã permitiu que uma equipe da Cruz Vermelha Internacional inspecionasse o campo-gueto de Theresienstadt, localizado no Protetorado de Boêmia e Moravia (hoje República Tcheca). As SS e a policia estabeleceram Theresienstadt, em novembro de 1941, como um instrumento de propaganda para consumo doméstico no Reich alemão. O campo-gueto era usado como uma explicação para os alemães que ficavam intrigados com a deportação de judeus alemães e austríacos de idade avançada, de veteranos de guerra incapacitados, ou artistas e músicos locais famosos para "trabalharem" "no leste". Na preparação para a visita de 1944, o gueto passou por um processo de "embelezamento". Depois da inspeção, as autoridades das SS no Protetorado produziram um filme usando os residentes do gueto para demonstrar o tratamento benevolente, que os "moradores" judeus de Theresienstadt recebiam. Quando o filme foi finalizado, as autoridades das SS deportaram a maioria do "elenco" para o campo de extermínio Auschwitz-Birkenau.
O regime nazista até o final utilizou a propaganda de forma efetiva para mobilizar a população alemã no apoio à sua guerra de conquistas. A propaganda era também essencial para dar a motivação àqueles que executavam os extermínios em massa de judeus e de outras vítimas do regime nazista. Também serviu para assegurar o consentimento de outras milhões de pessoas a permanecerem como espectadoras frente à perseguição racial e ao extermínio em massa de que eram testemunhas indiretas.
A propaganda nazista foi o principal instrumento de ascensão e um dos principais pilares de sustentação do regime de Adolf Hitler, o austríaco que assumiu o poder na Alemanha em 1934 - depois de haver perdido as eleições de 1932 - e viria a desencadear a II Guerra Mundial.
É verdade que a arte de convencer pela palavra é bem mais antiga. Em sua forma moderna, a propaganda política foi inaugurada pelo bolchevismo, especialmente por Lênin e Trotski. Mas, mesmo antes deles, houve líderes que reconheceram sua importância. Napoleão Bonaparte, por exemplo, dizia: "Para ser justo, não é suficiente fazer o bem, é igualmente necessário que os administrados estejam convencidos. A força fundamenta-se na opinião. Que é o governo? Nada, se não dispuser da opinião pública”.
No entanto, é preciso reconhecer que foram Hitler, o ditador alemão dos anos trinta e quarenta do século XX, e Joseph Goebbels, seu ministro da propaganda, que utilizaram com maior sucesso as técnicas de controle da opinião pública, dando, assim, o contorno definitivo à propaganda moderna. Orador inflamado e líder carismático, Hitler usou a propaganda de forma espetacular para unificar o país. Identificou e rotulou os inimigos comuns, os judeus e os comunistas, e o alvo, o Tratado de Versalhes, que tinha imposto ao país condições desconfortáveis ao final da Primeira Guerra.
Podemos dizer que um dos pontos positivos da propaganda nazista é que ela revelou a engenharia interna da propaganda política, constituída por um mix de técnica, arte e ideologia. Isso, em si, não tem partido. Ou, como diz José Nivaldo Júnior em Maquiavel, O poder, “a diferença está na arte de quem a executa e na ideologia que a dissemina”. Outro ponto positivo foi estruturar a propaganda política de maneira sistêmica, incluindo não apenas o uso da mídia formal, da mídia alternativa mas de todos os aspectos da comunicação política, avançando para a redação dos discursos, a cenografia adequada, o efeito hipnótico do grito de guerra, dos holofotes, do jogo de luzes, da cadência da marcha, da logotipia, da identidade visual etc. O lado negativo é que fazia apologia da mentira, por achar que apenas a constância e a continuidade da mensagem bastariam para perpetuar seu regime e sua ideologia, cujo resultado final se contabiliza em milhões de vítimas inocentes.

O sr. acha que a Propaganda Política ocupa o primeiro lugar, antes da própria política, na hierarquia dos poderes totalitários e mesmo da democracia.
Bem entendido, propaganda é uma tentativa de influenciar a opinião e a conduta da sociedade, de tal modo que as pessoas adotem “uma conduta determinada”, como escreveu Bartlett, em Political propaganda. Nesse sentido, toda propaganda é sempre institucional, ideológica e, ao expressar uma ideologia, manifesta-se politicamente. Nisso, ela não diferencia-se em sua aplicação, seja em um regime totalitário, seja em um regime democrático, seja assinada por uma empresa ou por um partido político. Essa é uma das razões pelas quais é decisivo distinguir propaganda de publicidade. Jean-Marie Domenach, em seu livro A propaganda política, distingue ambas com precisão: "A publicidade suscita necessidades ou preferências visando a determinado produto particular, enquanto a propaganda sugere ou impõe crenças e reflexos que, amiúde, modificam o comportamento, o psiquismo e mesmo as convicções religiosas ou filosóficas”.
Mais diretamente podemos dizer que a propaganda é um instrumento da política e da ideologia, expressando-as, e não o inverso. Hierarquicamente, a política vem antes, definindo o conteúdo da mensagem, cabendo à propaganda estruturar a sua forma.
Há, ainda hoje, como envolver a massa a favor de uma liderança carismática? Quais são as principais estratégias e técnicas?
No século XX se ampliaram os limites dos três suportes da propaganda tradicional: a imagem, a escrita e a palavra oral. Quando o nazismo floresceu, o grande meio de comunicação era o Rádio. Hitler aumentou a potência e a quantidade de transmissores e receptores. Promoveu audições comunitárias, mandou instalar autofalantes nos postes, para que ninguém pudesse deixar de ouvir a palavra do Führer. Ele costumava dizer que o rádio, em conjunto com o cinema e o automóvel, haviam tornado possível a vitória nazi-fascista. No cinema, através da arte politizada de Leni Rienfentahl, inaugurou a moderna linguagem do audiovisual. Se isso foi feito naquele tempo, com os recursos escassos da primeira metade do século XX, imagine agora, na era da comunicação globalizada, dos meios de comunicação de massas em tempo real. Nós vimos bombas caindo sobre Bagdá, na mais recente guerra das forças anglo-americanas contra o Iraque, no mesmo momento em que a população iraquiana partilhava o alarido da destruição. Com instrumentos de comunicação eficazes e controle cabal da grande imprensa - as emissoras foram proibidas de veicular noticias provenientes da rede de TV Al Jazira, por exemplo - os Estados Unidos convenceram sua população e boa parte da opinião pública mundial da “correção
moral” e da “necessidade política” de bombardear um país distante que não lhe havia atacado e contra o qual ele não havia declarado guerra. Tudo em nome do suposto “combate preventivo ao terrorismo”, como se nós pudéssemos atirar em alguém apenas por suspeitarmos que essa pessoa possa um dia nos fazer mal. Na verdade, tudo foi feito em nome da milionária indústria bélica dos Estados Unidos e dos negócios privados dos financiadores de campanha de George W. Bush. Segundo o relatório publicado pelo Center for Public Integrity (CPI), uma organização não-governamental norte-americana, 70 empresas dos Estados Unidos abocanharam contratos de 8 bilhões de dólares para realizar os trabalhos de reconstrução do Iraque. Todas elas haviam doado dinheiro para a campanha de Bush. Esse foi um exemplo de como uma liderança, mesmo sem carisma, mas assentada no poder, pode envolver emocionalmente as massas de um país, comprometendo-a em uma empreitada eticamente equivocada e historicamente desastrosa, usando as velhas armas da propaganda ideológica para encobrir interesses puramente políticos e econômicos. Como Hitler, Bush manipula a emoção para obter o resultado político desejado."Os poderes destrutivos contidos nos sentimentos e ressentimentos humanos podem ser utilizados, manipulados por especialistas", disse Monnerot. E para isso são utilizadas leis (ou “técnicas” ou “estratégias“) específicas. São elas:
Lei da Simplificação e do Inimigo Único: Consiste em concentrar sobre uma única pessoa as esperanças do campo a que se pertence ou o ódio pelo campo adverso. Reduzir a luta política, por exemplo, à rivalidade entre pessoas é substituir a difícil confrontação de teses. No caso do nazismo, os judeus e comunistas (formando uma massa uniforme) acabaram eleitos como o "inimigo único". Um bom exemplo contemporâneo foram campanhas presidenciais brasileiras de 1989. Em Fernando Collor de Mello se depositaram todas as esperanças - muitas delas trabalhadas pelos meios de comunicação - do povo brasileiro: um presidente jovem, esportivo, religioso e aparentemente honesto, prometia acabar com os "marajás" e instaurar a República da moralidade. Seu opositor era Lula, o comunista, o “sapo barbudo”, o inimigo único, contra o qual se constituiu uma aliança pró-Collor que ia da UDR e da Fiesp até a Rede Globo, passando pela Igreja Universal.
Lei da Ampliação e Desfiguração: A ampliação exagerada das notícias é um processo jornalístico empregado correntemente pela imprensa, que coloca em evidência todas as informações favoráveis aos seus objetivos. Exemplo: a greve nacional dos petroleiros, em 1998. Os veículos de comunicação (especialmente a Globo) anunciavam com freqüência que os combustíveis, principalmente o gás, iam faltar. Ressaltavam os problemas que adviriam da falta de gás. Mostravam as filas de compradores em busca de seus botijões. Assim, garantiram a opinião pública desfavorável aos petroleiros. No recente episódio da confusa nacionalização dos recursos minerais da Bolívia, quando Evo Morales, o presidente indígena, decretou a estatização das minas de gás que até então estavam sob controle da Petrobrás, as grandes redes de televisão se apressaram em criar um clima de enfrentamento e de guerra diplomática, alegando que o Brasil estava “de joelhos” e “se humilhando” para a Bolívia, desfigurando os fatos - rigoramente o Brasil não perdeu nem seus contratos nem seu patrimônio, uma vez que o Direito Internacional garante indenicação em caso de "nacionalização". O governo brasileiro retrucou dizendo que era um direito da Bolívia decidir como gerir sua riqueza mineral e seu sub-solo e, que, portanto, a soberania brasileira não estava em jogo e sim as relações comerciais entre dois países soberanos. Ato contínuo, os telejornais passaram a despejar doses diárias de terror, alegando que iria faltar gás de cozinha – que não é produzido na Bolívia nem importado pelo Brasil. O objetivo claro era provocar desgaste político em Lula e no governo, com objetivo descaradamente eleitoral.
Lei da Orquestração: A primeira condição para uma boa propaganda é a infatigável repetição dos temas principais. Goebbels dizia: "A Igreja Católica mantém-se porque repete a mesma coisa há dois mil anos. O Estado alemão deve agir analogamente."
Adolf Hitler, em seu Mein Kampf, escreveu que a propaganda deve limitar-se a pequeno número de idéias e repeti-las incansavelmente. “As massas não se lembrarão das idéias mais simples a menos que sejam repetidas centenas de vezes“, escreveu Hitler. “As alterações nela introduzidas não devem jamais prejudicar o fundo dos ensinamentos a cuja difusão nos propomos, mas apenas a forma. A palavra de ordem deve ser apresentada sob diferentes aspectos, embora sempre figurando, condensada, numa fórmula invariável, à maneira de conclusão”. Não parecem frases extraídas de um moderno tratado de comunicação mercadológica?
Portanto, a qualidade fundamental de toda campanha de propaganda é a permanência do tema (ou “conceito” - como dizemos hoje), aliada à variedade de apresentação. Convivendo com a redução substancial de sua participação na partilha do bolo de recursos federais - que na era FHC eram distribuídos com generosidade para os governadores do PSDB e com parcimônia burocrática aos demais governadores - o governo do Pará resolveu usar a técnica da orquestração para criar um discurso de “defesa do Pará" (defesa contra "quem"? Contra o "inimigo único", o Governo Federal), ao mesmo tempo em que oculta a participação do governo federal (agora do PT) em ações expressivas realizadas no Estado, como a regularização fundiária, a pavimentação de rodovias, a eletrificação rural ou a criação de um sistema único de segurança. Ao mesmo tempo, sob a abstrata bandeira da defesa do Pará, oculta sua participação ativa nas privatizações da Celpa e da Companhia Vale do Rio Doce, que geraram o desmonte de importante patrimônio público, a precarização dos serviços, a ausência de controle e fiscalização do Estado sob nosso sub-solo e a manutenção ad-eternum da "vocação" extrativista que nos coloca desde sempre na periferia do desenvolvimento nacional.
Lei da Transfusão: A propaganda não se faz do nada e se impõe às massas. Ela sempre age, em geral, sobre um substrato preexistente, seja uma mitologia nacional, seja o simples complexo de ódios e de preconceitos tradicionais. É o que os oradores fazem quando querem amoldar uma multidão ao seu objetivo: jamais contradizem as pessoas frontalmente, mas de início declaram-se de acordo com ela. A maior preocupação dos propagandistas reside na identificação e na exploração do gosto popular, mesmo naquilo que tem de mais perturbador e absurdo. O sexismo nas propagandas de cerveja é fruto da idéia, corrente, de que a mulher é um objeto de desejo e elemento ornamental em si, abstraindo seu valor como pessoa, como ser racional.
Lei da Unanimidade: Baseia-se no fato de que inúmeras opiniões não passam, na realidade, de uma soma de conformismo, e se mantêm apenas por ter o indivíduo a impressão de que a sua opinião é esposada unanimemente por todos no seu meio. É tarefa da propaganda reforçar essa unanimidade e mesmo criá-la artificialmente. Quando Ayrton Senna morreu, os meios de comunicação trataram de transformá-lo não apenas em ídolo, mas em um semideus, fazendo com que essa comoção chegasse até mesmo a pessoas que pouco sabiam sobre Fórmula 1 ou sobre a personalidade do piloto. Durante a transmissão do traslado do corpo de Ayrton Senna, ao ser perguntada por um repórter sobre o que estava sentindo, uma mulher respondeu: "Estou muito triste. Eu nem sabia o quanto amava o Ayrton”. Não sabia mesmo, até a mídia dizer isso a ela, criando artificialmente uma relação afetiva, quase íntima, pessoal, com alguém com quem ela nunca teve qualquer contato humano anterior.
No Dia da Propaganda, uma agência de Belém divulgou peça institucional onde usava a propaganda nazista, através de uma imagem e de alusão textual, como uma propaganda que não obteve êxito, fracassou. Na sua opinião, ela obteve êxito ou fracassou? Justifique?
A propaganda nazista foi exitosa. A idéia de que a linha mestra da propaganda nunca deve ser abandonada, de que qualquer variação tem que afirmar a mesma coisa, de que o sucesso da propaganda é assegurado pela repetição e pela constância, são matrizes do marketing e da propaganda contemporâneos lançadas por Goebbels durante a campanha nazista. Os fatos precisam ser reconhecidos. Em 2000, a Vanguarda fez um outro anúncio, também publicado no Dia da Propaganda, com o título “a propaganda sem ética pode vender tudo. Inclusive a nossa liberdade” onde combatemos a visão de que apenas a propaganda “justa”, “verdadeira”, pode ter êxito. Isso é pura mitologia. Fernando Collor, para ficarmos só em um exemplo, fez história para não deixar dúvida: propaganda sem ética vende, sim. Transforma mentira em verdade, ainda que por um tempo. E durar pouco tempo é ainda durar, porque a extensão temporal não precisa ser infinita para um fato acontecer e produzir resultados. A propaganda sem ética vende, passa adiante. E depois não pede desculpas. Pode vender falsários como salvadores da pátria e torná-los governantes; pode vender carros inseguros, que capotam numa freada brusca; pode vender pacotes de excursão que te deixam sozinho numa paragem perdida na savana africana ou em pleno Lençóis Maranhenses; pode vender a idéia de que todo árabe ou mulçumano é inimigo da civilização ocidental, desencadeando o ódio racial e a intolerância religiosa; propaganda sem ética pode vender tudo, inclusive a nossa liberdade. A propaganda nazista foi soberbamente exitosa porque ganhou a cumplicidade de uma das populações mais cultas do mundo para atos insanos, como o extermínio físico de comunistas e judeus ou a invasão de países limítrofes. Mas veja: a Alemanha foi pátria da filosofia moderna, esteve na vanguarda do pensamento ocidental. Não é nem nunca foi um povoado habitado por um amontoado de tontos. Contudo, o poder de convencimento da propaganda foi tamanho que o nazismo se instaurou praticamente sem derramamento de sangue: derrotado nas urnas, Hitler tornou-se primeiro ministro em 1932, em 1934, com a morte do presidente da Alemanha, Hindemburg, assumiu a presidência e consolidou seu poder. Em 1939, invadiu a Tchecoslováquia e a Polônia, sem encontrar resistência. Ele soube dialogar com os anseios, as aspirações e as franquezas daquele povo culto, submetendo-o. O fato do nazismo ter sido derrotado não se deu por conta da incorreção da sua propaganda, afinal ele não foi derrotado ideologicamente, ele foi derrotado militarmente para depois ser submetido a um julgamento ideológico e histórico. Felizmente, apenas o sucesso da propaganda não foi capaz, não foi suficiente, para levar Hitler e seus aliados à vitória final na segunda guerra mundial. Ele não foi derrotado por sua propaganda, e sim, foi derrotado apesar dela.
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